A estudante de direito Vatsyani Marques Ferrão, 40 anos, foi agredida por dois homens que ela diz serem policiais civis de Pernambuco. Ela conta que apanhou deles dentro de um carro e em uma sala da Delegacia do Idoso, que fica no bairro da Boa Vista, no Recife, durante a manhã da última quinta-feira (22). "Pensei mesmo que ia morrer. Eles não são policiais, são bandidos. E um servidor público não pode fazer isso com ninguém", afirma.
A motivação para a agressão seria, segundo André Fonseca, advogado da vítima, uma denúncia feita por ela. "Acreditamos que isso tudo foi por conta de uma denúncia de furto que ela fez de uma certa pessoa. Ele deve ser o autor intelectual e isso foi uma tentativa de pará-la. Não posso dizer mais, no momento, nem identificar essa pessoa, para não prejudicar o andamento da investigação", disse o advogado, em entrevista por telefone ao G1, neste domingo (25).
A Secretaria de Defesa Social informou que tomou conhecimento da denúncia, foi à Delegacia do Idoso no dia do fato e está apurando o caso. O órgão, no entanto, não confirmou se os agressores são policiais civis. O prazo para conclusão do inquérito também não foi informado.
Entenda o caso
Vatsyani conta que estava na casa da mãe, no bairro da Boa Vista, no Recife, e ambas iam a uma lavanderia, por volta das 10h40 da última quinta-feira (22). Enquanto a estudante esperava pela mãe, dentro do carro, viu pelo retrovisor que a senhora tinha sido abordada na rua por dois homens desconhecidos. Eles tentavam colocá-la no veículo em que chegaram.
Vatsyani conta que estava na casa da mãe, no bairro da Boa Vista, no Recife, e ambas iam a uma lavanderia, por volta das 10h40 da última quinta-feira (22). Enquanto a estudante esperava pela mãe, dentro do carro, viu pelo retrovisor que a senhora tinha sido abordada na rua por dois homens desconhecidos. Eles tentavam colocá-la no veículo em que chegaram.
A filha abandonou o carro no meio da rua e tentou socorrer a mãe, mas foi algemada com as mãos para trás e colocada no banco traseiro do veículo. Um dos homens dirigia e o outro a agredia. "Me deu cotoveladas, colocou um revólver na minha barriga, ameaçou me matar. Eles diziam coisas da minha rotina, sabiam meu endereço, a placa do meu carro", relembrou.
No trajeto pela Avenida Conde da Boa Vista, uma das principais do Centro do Recife, a gritaria de Vatsyani chamou a atenção de uma equipe da Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU), que se aproximou do carro onde ela estava e abordou o motorista. Nesse momento, ela conta que um dos agressores se identificou para os fiscais de trânsito como policial e informou que se tratava de uma mulher drogada com cocaína, que eles estariam levando para a delegacia. "Eles passaram duas horas percorrendo a cidade do Recife, espancando e batendo e, se não fosse a CTTU, Vatsyani poderia ser mais um Amarildo da vida", diz o advogado, em referência ao ajudante de pedreiro Amarildo Dias de Souza, que está desaparecido desde julho, no Rio de Janeiro.
De acordo com o relato da vítima, ela foi levada para a Delegacia do Idoso, que fica na Rua da Glória, e foi novamente agredida em uma sala onde não havia ninguém. O homem que estava dirigindo o carro, segundo Vatsyani, foi quem mais a chutou, na cabeça e no abdômen. "Uma comissária ainda entrou na sala e disse que ia filmar tudo, para dizer que eu tinha me machucado sozinha, porque estava me debatendo no chão".
Vatsyani disse que um delegado entrou na sala e mandou que ela fosse embora. "Como? Toda desfigurada? Você não está lidando com uma pessoa ignorante. Quero perícia no carro, porque tem um monte de fios de cabelos meus. E meu celular também ficou lá", respondeu ela. De posse do aparelho novamente, a universitária ligou para seu advogado e esperou que ele fosse resgatá-la na unidade policial. "Condicionamos a saída dela à presença de alguém da Corregedoria, e esperamos até que chegasse lá uma delegada, que ficou pasma com o que viu. Depois fomos à Delegacia de Santo Amaro, prestar queixa, e ao IML, fazer o exame de corpo de delito", informou André Fonseca. "E quando eu estava saindo da Delegacia do Idoso, ainda tive que ver esses policiais fazendo gestos obcenos na minha direção", contou a estudante.
"Chegamos ao IML por volta das 14h30 e ela só fez o exame às 17h30. Na hora da queixa na delegacia, também notávamos uma lerdeza, uma demora muito grande em realizar os procedimentos. Só suponho que isso foi feito para esperar o tempo passar e ver se o inchaço, os hematomas diminuíam. O corporativismo é muito grande, mas esses policiais vão ser enquadrados em pelo menos 12 crimes previstos no Código Penal", assegurou o defensor.
"Vamos à Corregedoria pedir o afastamento desses policiais, para que eles não influenciem na apuração dos fatos e no andamento do inquérito. Ela foi vitima de terrorismo, aquilo não foi só sequestro, não, foi uma lista de crimes, agressão física, ameaça, tortura... Vatsyani não tem absolutamente nada a dever a esse pessoal", finalizou o advogado André Fonseca
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